Veio para São Paulo no início dos anos de chumbo depois que sua família perdeu a referência do pai, que provinha muito da renda que subsidiava a família. A irmã mais velha e fiel parceira, Isabel Marques, chegou primeiro à terra da garoa e ao arrumar trabalho foi trazendo as demais irmãs e irmãos para a cidade.
Edite, sempre muito estudiosa, ao chegar e se deparar com as condições precárias do trabalho doméstico e fabril ao qual as mulheres negras migrantes quase sempre são expostas, parou em frente a um colégio particular na região de Moema e pediu para estudar lá. Era um renomado colégio de freiras, sendo Edite, já a época uma jovem mulher ligadas às lutas das comunidades eclesiais de base, foi vista com bons olhos pela madre superior que conseguiu lhe arrumar uma bolsa para que terminasse seus estudos.
Depois de concluir o ensino médio começou a trabalhar numa fábrica de televisores e por lá começou a agitar greves e a participar intensamente dos movimentos culturais nas periferias da cidade.
No final da década de 70 mudou-se com as irmãs para a Parque Figueira Grande (M’Boi Mirim) periferia da zona sul de São Paulo, onde reside até hoje, desde lá até os dias atuais abre sua casa para receber artistas, poetas e militantes para compartilhar arte e cultura, sempre recitando muito bem poemas de grandes nomes da literatura brasileira.
No final da Década de 80 começou a ter sérios problemas de vista por conta de complicações decorrentes da diabetes, até que na primeira metade dos anos 2000 perdeu totalmente a visão.
Edite passou por um período de isolamento e profunda tristeza, mas com a ajuda de amigos e familiares foi buscando se reinserir socialmente e nas atividades culturais do bairro.
No final dos anos 90 conheceu a Casa Popular de Cultura de M’Boi Mirim e por consequência o grupo de arte e cultura da terceira idade “Flor de Lis”. Nesse grupo passou a aprofundar seus conhecimentos sobre cultura popular brasileira e passou a dançar ciranda e outros ritmos brasileiros junto das amigas em apresentações por toda cidade.
Por intermédio do grupo Flor de Lis no início de 2006 conheceu o Sarau da Cooperifa e se reconectou com um hábito antigo, que já se encontrava adormecido, por conta da perda de visão, a poesia.
Desde então o sarau e a rotina de recitar não tiveram pausa. Edite passou a ser conhecida como a diva da Cooperifa e foi reconhecida em diferentes espaços e instituições por sua capacidade de decorar poemas muito extensos dando personalidade única para cada verso dito.
Foi homenageada na UNICEF, premiada pela Cooperifa, tem uma sala de leitura com seu nome em uma escola no Jd. Angela, uma sala de aula em uma EMEI do seu bairro, um cursinho popular universitário inspirado em sua história. Foi a programas de televisão e em diversos saraus divulgar sua luta e poesia, lançou um Cd de poemas recitados, teve matérias de jornal contando sua trajetória, agora só lhe faltava uma biblioteca de áudio livro visibilizando seu legado e conectando outras pessoas com deficiência visual ao universo da leitura e da arte.
Ressoa na voz rouca e vibrante de Dona Edite o lamento de muitos oprimidos, e de muitos músicos e interpretes da brasilidade como Elomar, Maria Bethania, Márcio Batista, Cora Coralina, etc.
Como diz o poeta Sérgio Vaz,
“Dona Edite Simplifica a Humanidade”.
Assista ao documentário: O Olhar de Edite